GRUPO AS INSEPARÁVEIS

sexta-feira, 22 de maio de 2009

 

POEMA DE SETE FACES
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

2 comentários:

Cúmplices disse...

Drummond analisa várias personalidades do cotidiano em seu poema, inclusive questiona a sua,onde afirma ser fraco e ao mesmo tempo ter um coração vasto.

Malagueta disse...

Um poema autobiográfico, de ar pessimista, que questiona os sentimentos do autor de como ele se vê no mundo. Passa ao leitor uma certa inquietude e um senso de observação perspicaz