GRUPO: A TURMA DO CHAVES

segunda-feira, 1 de junho de 2009

 

A MULHER AUTOMÁTICA
Oswald de Andrade

(De São Paulo) - Qual é o seu cargo?
- Esteno-dáctilo-serpente-contralto-secretária...
- Isso é novidade. Eu ouvi no rádio, naquele debate sobre a mulher moderna: esteno-dáctilo-serpente-secretária - A mulher atual!
- Ainda tem mais! Ponha glamour!
- Que é isso?
- Glamour é assim como eu sou. De concurso!
O homem pálido que esperava há duas horas examinou com os olhos a morena iodada no coral solto do vestido, sandálias de purpurina, cabelo lustroso, brincos, balangandãs e pulseiras, um beiço em ciclâmen por Salvador Dali.
- O senhor sabe? Comprei ontem um leque que cheira. É formidável! Da América!
A voz grossa trauteou "La vie en rose".
- Dei o fora no meu darling porque ele não me levou à boîte para ver o Charles Trenet. Fui com Mister Ubirajara.
- Quem é Mister Ubirajara?
- Acho que é canadense. Um gordo do anúncio. Tem gaita e possui um guarda-roupa perfeito. Dois ternos por dia! Me levou a Santo Amaro num 1950 formidável. Tomamos muitos drinks.
Na ante-sala de móveis mecânicos o telefone ressou.
- Aposto que é o turco! Deixa tocar... Ele fala "negócio". Quer saber do "negócio" dele. Como se eu estivesse aqui para dar informações!
O telefone insiste.
- O senhor sabe? Um marinheiro contrabandista foi ao meu apartamento levar uns cortes de tropical e uns relógios suíços. Não falava nenhuma língua. Disse por gestos que era marinheiro, da Suíça. Enquanto ele se distraiu bati um relógio-pulseira e pus ele pra fora. Começou gesticulando que faltava alguma coisa. Banquei a boba. O homem falou baiano: - Deixe de besteira moça! Não gosto disso não! Me dá o relógio!
O telefone continuava. Ela arrancou num gesto o fone e berrou:
- Não me encha! Não é aqui!
Desligou violentamente. A voz do outro lado ficou dizendo humildemente:
- Esbéra, mucinha!
- Que esbéra, nada! Se ele ligar outra vez dou o telefone do Cemitério do Araçá. Vou fazer ele falar com defunto!
Houve um silêncio rápido. O homem pálido perguntou:
- A senhora é contralto?
- Sou. O que a mulher tem de melhor é a voz! - gritou desaparendo numa porta volante. - A voz e a saliva!

5 comentários:

marfi disse...

O texto é interessante e engraçado, porém um pouco exagerado.

Cumpices disse...

Um dos textos mas complicados. Lemos, relemos, refletimos, mas mesmo assim não conseguimos compreender o sentido do texto. Parece que o autor fala da mulher atual, porém o que complica o entendimento é a seguinte frase: mulher moderna: esteno-dáctilo-serpente-secretária - A mulher atual!" Não entendemos o que Oswald de Andrade quis dizer com essa frase. Podemos perceber também que o autor caracteriza com muitos detalhes como esta mulher, citada no texto, é fisicamente e como ela esta vestida.

Popilitchulas disse...

Texto de dificil entendimento.Algumas palavras deixâo
o texto meio dificil para compreender.

As inseparáveis disse...

O poema de Oswald de Andrade é muito confuso, parece ser uma entrevista informal, onde a moça é tagarela, "fala pelos cotovelos", e mostra ser uma mulher moderna, que conta suas aventuras.

Anônimo disse...

GRUPO XIRIBIRIBINHAS.

O poema se refere-se a uma entrevista onde a mulher é uma tagarela e oportunista que alem de falar muito ela é uma pessoa impulsiva que não liga pelas opiniões alheia, pode se ver pelos trajes que ela compareceu na entrevista