GRUPO: POPILITCHULAS

segunda-feira, 1 de junho de 2009

 

OS SAPOS
Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei"
- "Foi!"- "Não foi!"- "Foi!" - "Não foi!"

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.

4 comentários:

As inseparáveis disse...

Percebemos que este poema é uma metáfora, os poetas são comparados a sapos e são automaticamente inferiorizados. Há também uma critica do poeta às formas perfeitas do Parnasianismo ao chamar o sapo-tanoeiro de “parnasiano aguado”, porém ao escrever esse poema Manuel Bandeira faz o uso dessa forma. O que mais chama atenção neste poema é a ironia que o autor tem ao comparar alguns poetas que não são reconhecidos e se desiludem com a arte a sapos que urram e que fogem solitários.

Cumplices disse...

O que mais chama atenção neste poema é justamente o fato de, por se tratar de uma crítica às formas perfeitas do Parnasianismo, o poeta modernista faz uso justamente destas formas na composição do poema para atacar o movimento da arte pela arte. É possível perceber uma relação entre sapos e os poetas Parnasianos , assim como é clara a crítica de Manuel Bandeira ao Parnasianismo.

marfi disse...

um texto confuso,porem muito interessante.Os sapos são comparados com o poema como se fossem desinteressante, tambem mostra uma critica ao parnasianismo.

Malagueta disse...

Um texto muito interessante, onde Manuel bandeira critica fortemente o Parnasianismo e os seus escritores chamando-os de "aguados" e o seu próprio título é em referência a os parnasianistas.Também chama eles de "solitários" fala também que seus textos não têm rima